13 dezembro 2016

LITERATURA & MÍDIA




Em 18 de abril de 2012 o escritor Ariano Suassuna ministrou uma palestra no Tribunal Superior do Trabalho, em que nos deixou a mensagem de que o Brasil andava trilhando o caminho da frivolidade.
Cito aqui algumas de suas passagens:

“Eu me preocupo muito com esse processo de vulgarização e de descaracterização da cultura brasileira”.

“Tudo que nos aparece nos é empurrado de goela abaixo como ordem do primeiro mundo e quando a gente se opõe somos chamados de arcaicos”.

“Estão nivelando o gosto pelo gosto médio. É a pior coisa que pode acontecer”.

Fala ainda dos falsos ídolos que nos são empurrados. E o que mais me marcou foi a seguinte frase:

“O escritor verdadeiro não vai atrás do lugar comum. Ele procura o que tem de verdade por trás da aparência”.

O vídeo da palestra que super recomendo pode ser conferido em: https://youtu.be/TQbqRon4-gQ


O fato é que passados dois anos de sua morte, na bienal de São Paulo, em agosto de 2016, dava pra ver bem a ilustração do que o escritor temia: frivolidade.

Vários colegas escreveram sobre o impacto que tiveram ao expor seus trabalhos nesta edição da bienal, quase que completamente ignorados pelo público.
Booktubers tornaram-se referência para a Literatura Nacional. Jovens com rostos lindos ou um estilo marcante ou ousado estampam os banners das livrarias e lotam as filas de autógrafos, enquanto autores com uma longa história literária e publicados até internacionalmente ficavam à deriva em muitos estandes, ignorados pelo público.
Eu conversei com muitos deles. Vi a desolação de colegas com trabalhos que me chamaram a atenção pela qualidade e ganharam até prêmios literários, nacionais e internacionais, mas que ali não venderam um único livro. Imaginem! Uma escritora me contou que durante seu lançamento quase foi atropelada por adolescentes apressadas rumo ao lançamento de jovens atrizes que então bombavam na mídia.
E no meio disso, como fica a cultura brasileira? Como ficam os velhos novos autores nacionais? Sem editora. Sem distribuição. Sem divulgação. Porque vamos combinar, a concorrência é injusta e desleal.
Ganha quem é mais jovem, fala mais alto, expõe-se mais ao ridículo e paga mais, claro.
O autor nacional independente já lida com escassez de público, preconceito em relação à obra nacional por grande parte dos leitores, sem contar o árduo caminho que trilha para chegar até o livro impresso.
Mas, claro, concordo com quem diz que booktubers e jovens autores incentivam a leitura, estimulam os outros jovens, e sei muito bem que nem sempre a novidade é frívola e fugaz. Sei que existem talentos promissores e exceções às regras.
Nem sempre a mídia dita tudo o que se vende e se escreve. Mas muita coisa é de uma pobreza intelectual doída.
E sim, a mídia dita grande parte do que se lê por aí.
No meio de alguma coisa legal e criativa existe sim um mar de futilidades, modismos inúteis, ataques e apelações.

 E, nós, os velhos novos nacionais, como ficamos? Ou não ficamos? Desistimos de ser para ser engolidos pela onda do momento?

Não!!!
Mesmo com o que nos é “empurrado goela abaixo” continuamos questionando.
Discernindo. Continuamos tecendo a Literatura Nacional, sejamos ignorados ou não. Seguimos lendo, refletindo e estudando. Confeccionando páginas e páginas à espera do leitor que tenha brasilidade. Leitor que diferentemente daquele que a mídia comanda, precisamos conquistar e no nosso "trabalho de formiguinha"  formar um a um.

Então, colegas, minha mensagem para este fim de ano é PERSEVERANÇA.
Que em 2017 a gente não aceite o que nos é imposto pela moda. Que a gente possa melhorar esse cenário desolador. Formar novos leitores e persistir na busca por um espaço na Literatura que não é só de quem pode mais, quem paga mais, mas que é nossa também.



Um comentário:

  1. Bruna... as coisas são assim mesmo, infelizmente, como em todas as outras áreas da vida. É o mundo caído e egoísta. O Espírito do Pai, há muito me dizia e me mostrava porque caminho eu devia andar, mas eu tola ia empurrando com a barriga o que sabia que devia fazer ( e o que eu não sabia não buscava ).
    Mas hoje Ele me mostra o começo da jornada. É outra senda. Tudo oposto. A verdadeira senda.
    Nessa via (que pode ser dolorosa tmb) há muita luz e alegria! Só estou vendo, aqui de longe, a primeira curva... mas a grande alegria, é que Ele, o Filho Amado do Pai, nos leva pela mão.
    Não leva a Babilônia, nem a Roma, ou à Grécia... Mas a Yesushalayam!!!! <3

    bjos e parabéns por dividir tão sensívelmente e com sinceridade conosco suas impressões sobre tudo isso.

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