31 agosto 2010

Tantas hitórias, tantas versões de Romeu e Julieta...

Define a Lei nº 9.610 (lei dos direitos autorais), artigo 7º, caput: "São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro..."
Não é romântica a definição legal? O que mais seria a arte que não a manifestação do espírito, a expressão da criatividade humana? Mas a criatividade esbarra na originalidade? Quero dizer, são tantas hitórias com elementos em comum, tantas versões de Romeu e Julieta...
Acontece que navegando pela rede, encontrei alguns artigos criticando publicações contemporâneas. Frases como: "não há nada que mereça ser publicado, nada de novo, nada de original." Embora seja meu princípio respeitar a crítica e a opinião dos outros, confesso que achei a colocação limitada e preconceituosa.
Não é a primeira vez que leio alguma coisa assim. Eu já havia falado em um post anterior que negar a existência de novos artistas, é negar a capacidade criativa do homem. Cada geração tem algo a dizer. Cada um de nós tem suas próprias experiências. Se olharmos ao nosso redor, veremos que não é preciso ir longe, pois em uma mesma família acontecem biografias diversas.
Você pode dizer que um romance guarda pontos semelhantes. É verdade. Óbvio que isso também acontece nos outros gêneros, porém, cada autor tem algo único a contar ou não nos apaixonaríamos por novos títulos de tempos em tempos.
Sempre digo que um dom não pode ser forçado, por isso, existem originais bons e ruins. Livros verdadeiramente inspirados e textos forçados.
Temos ainda que lidar com o fato de conviver com espertalhões que tentam se apropriar do trabalho dos outros. É, com a internet fica difícil controlar o plágio. Já vi casos de autores que descobriram seus originais publicados com outro título. Também já encontrei trabalhos meus pela rede, publicados supostamente por outra pessoa. Reclamei, mas tinha o registro para comprovar a anterioridade, o problema, é que nem todos os autores se preocupam em registrar seus textos. A própia lei coloca o registro das obras como uma faculdade e não uma obrigação, contudo, ele gera presunção relativa de autoria.
Bem, voltando à questão da originalidade, quando fiz meu TCC em Direito, ao analisar o objeto de proteção dos direitos autorais, fiz a mesma reflexão:
Ao se resgatar a essência de contos de fadas como Cinderela, A Bela e a Fera, A Bela Adormecida e outros, percebe-se que inspiraram filmes, novelas etc., todos reunindo personagens e fatos bem semelhantes aos que cativam as pessoas, ainda na infância. No entanto, se um artista cria seu trabalho a partir de algo que o sensibilizou, que o intrigou, é possível a conclusão de que cada obra nasce de um contexto, de algo que inspirou seu criador e que denominamos ideia. Assim, não deixa de ter sua porção de originalidade. Afinal, a interpretação, por ser subjetiva, assume um contorno a cada leitura individual.
"Cartas a um jovem poeta", do escritor Rainer Maria Rilke, é um de meus livros favoritos. Há uma passagem que diz muito ao novo autor:
O senhor me pergunta se seus versos são bons. Pergunta isso a mim. Já perguntou a mesma coisa a outras pessoas antes. Envia os seus versos para revistas. Faz comparações entre eles e outros poemas e se inquieta quando um ou outro redator recusa suas tentativas de publicação. Agora (como me deu licença de aconselhá-lo) lhe peço para desistir de tudo isso. O senhor olha para fora, e é isso sobretudo que não devia fazer agora. Ninguém pode aconselhá-lo e ajudá-lo, ninguém. Há apenas um meio. Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave e simples “Preciso”, então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso. (2006, p.24-25).

Então, se você escreve porque precisa escrever, se acredita no que faz e que realmente tem algo a dizer, persiga seu sonho, lute por ele e, mesmo diante das tantas dificuldades, resista. Somente alguém determinado e motivado consegue chegar a algum lugar. As pessoas gostam de impor condições. Os desistentes adoram aconselhar. É uma mania de dizer para o outro o que deve ou não fazer. Não aceite como sua a experiência de alguém. Eu sei que não é fácil atingir um objetivo ou realizar um sonho, ainda assim, o mundo está cheio de vencedores.


4 comentários:

  1. Eu acho afirmações do tipo "não há nada que mereça ser publicado, nada de novo, nada de original" super preconceituosas. Primeiramente não há mesmo nada de novo, nada de original. Até porque nunca ouve. Shakespeare não foi o primeiro a falar sobre um amor impossível. Se fosse assim, não deveríamos nunca ler Shakespeare, tocando nesse assunto. Afinal de contas, o que não são os seus textos senão releituras de tragédias gregas?
    Tudo na vida serve de inspiração para o artista, desde o que ele absorveu de outros artistas até mesmo os sonhos que ele teve ou o menino que viu brincando na rua.
    Se não acreditarmos nos talentos de hoje, teremos um século vazio - onde só se olha para o passado. É importante lembrar que Dostoievski era um autor contemporâneo em seu próprio tempo. Ou seja, se as pessoas forem tão preconceituosas, podemos estar perdendo figuras importantes na atualidade.
    Eu acho muito importante deixar o preconceito de lado. Primeiramente temos que conhecer o que está sendo criado. E depois podemos deixar a nossa opinião.
    Adorei o seu post ^^

    PS: Essa história de plágio é muito, muito triste mesmo.

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  2. Achei este post de uma propriedade inegável.
    Me interessei, até mesmo, pelo livro de onde destacas a citação.
    Parabéns! É reconfortante saber que existem pessoas com tamanho bom senso.

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  3. "a interpretação, por ser subjetiva, assume um contorno a cada leitura individual."

    É incrível que mesmo duas pessoas com tanto em comum, como duas amigas, seja mesmo nos gostos literários, podem vir a não ler uma obra com o mesmo gosto ou olhos. Já aconteceu comigo.

    Alencar bebeu em Dumas (ou assim me pareceu, para eu não falar asneira aqui), e Lucíola é um livro lindo, maravilhoso. Gostei tanto ou mais desse que de A Dama das Camélias. Hoje, falem o que falem dele, Alencar é sempre Alencar. =] Ainda, depois tivemos a Hilda... e por aí vai.
    Todos lindos. Já pensou se, por ter já havido um livro de amor impossível entre prostituta e 'homem de bem' Roberto Drumond tivesse desistido antes de começar a escrever seu romance que tornou-se inesquecível com o Cintura e a Tomba? xD E ainda tornou possível tão linda produção de teledramaturgia.

    Pensou se Leticia W. não tivesse escrito A Casa das Sete Mulheres, porque afinal Erico já escrevera O Tempo e o Vento e, ali, nada nos faltou sobre a Guerra dos Farrapos. Não teriamos esse livro lindo que contam os anseios pelo ponta de vista feminino e que tmb foi adaptado para uma das belas obras de teledramaturgia, na minha oponião.

    Todo tema é maravilhoso, mesmo se repetido, se o autor sentiu frenesi em criá-lo. Porque, como dizia Heráclito, nenhum homem mergulha duas vezes no mesmo rio. Nem o rio, nem o homem jamais serão o mesmo.
    Tenho certeza que, se um autor perdesse um original e, para recuperá-lo, nada restasse que reescrevê-lo, ele não poderia fazê-lo. Teria um livro novo, por mais esforço que fizesse tentando.

    Imagine duas pessoas diferentes, outra vivência, hormônios e sentimentos então?

    Adorei seu post, Bruna, e concordo com tudo que a Nanie falou acima.
    Como é maravilhoso esse intercâmbio não só de ideias, opiniões e vivências, mas de amizades que a internet nos proporciona as pessoas com mesmo anseios e interesses.
    Para os atrasados, só resta a pena que dá deles. Devem andar cansados de procurar no oceano de variedade que temos. [ironic]Bom era na época da ditadura. Na época que nem a imprensa de Guttemberg existia, né? Quando um livro era coisa de reis e até pensar era proibido...[/i]

    beijinhos
    Aline

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  4. Os comentários da Aline retratam o que penso. Ela expressou-se com indiscutível propriedade!

    Apossar-se do texto do outro só é saudável quando a aprendizagem é exercida, quando complementa-me nas reflexões e da outra versão absorvo convencimentos. Esse apossar vale no refazimento de cada um. Cada um que tem consciência do seu inacabamento e da "boniteza" possível".

    Abraços!

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