09 maio 2016

A PRIMEIRA PALAVRA

Era a primeira palavra.
A primeira palavra que ela verdadeiramente, socialmente, gentemente, entendeu.
E que palavra danada como o quê...
Que fazia alguém ver sem ver, tocar sem tocar, dizer sem dizer.
A menina aprendeu a passar pela rua sem pisar no chão. E virar a esquina sem sair da linha.

Algumas coisas não se explicam e do outro lado daquele morro bonito tem fome, tem sede, tem frio.
Atrás dos belos casarios e das janelas panorâmicas deu-se que surgiu o feio. No desenho da cidade a palavra criou rabisco. Ora, não é sem tristeza que o verso insiste. Nem é por querer que o velho desiste.

O verbo nunca teve intenção, mas acomodou-se o triste. Foi injustiça ou quem contou o segredo desdisse?!
Silêncio. A menina chora. Sai da treliça porque cansou.
A palavra ainda assim ficou. Que mundo de gente grande às vezes traz dor. E até a criança acaba sentindo o escuro do frio, o vazio da fome, o tom do rancor.
- "Faz isso não, seu moço!" – Pediu o moleque no sinal. Não adiantou. O motorista não escutou. Estava ouvindo o medo. Fechou o vidro depressa. Deixou a cidade sem ação. O asfalto sem cor.

A menina escreveu na resposta a opção. Não pensou com a cabeça, pensou com o coração.
- Eta palavra tinhosa que faz do mar um sertão!
É a indiferença...
I N D I F E R E N Ç A! - Ela repetiu no ocaso do vão.
Indiferença que ela rimou com desistência, ausência, descrença.

Mas ela era criança. Não se cresce sem infância...
E a menina voltou à janela! Deitou o olhar na vizinhança, identificou em si a esperança.

E além das treliças, descobriu que as letras viviam em dança.
De combater o mal, o bem não se cansa.
Mas não desvie o olhar, que seja lá onde estiveres,
um dia...
A realidade te alcança.
Bruna Longobucco

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